CEPEA/ESALQ-USP

logo sifaeg preto

NOTÍCIA

Opinião

Energia limpa reduzindo as emissões

É praticamente impossível não relacionar o aquecimento global com a questão florestal. Sempre que sai uma notícia sobre desmatamento vincula-se a atividade ilícita à vilania do aquecimento global. E sempre que sai uma notícia sobre o aquecimento faz-se um vínculo, como se fosse um sinal da “doença planetária” : o efeito estufa.

A verdade é uma só. Todo mundo fala o que não sabe! Mas já que a verdade é que não há verdade, construo minha tese em torno do bom senso que penso ser a ferramenta comum de domínio meu, dos leitores e dos cientistas, de forma que possa haver uma identifcação de razoabilidade nessa nossa conversa.

O acúmulo de CO2 na atmosfera foi acelerado a partir da Revolução Industrial e esses gases em abundância oferecem riscos, e já temos sinistros climáticos significativos. Assim, fácil inferir, se quando começamos a queimar óleo e carvão, que são combustíveis fósseis, começamos a saturar a nossa atmosfera com gases de estufa, por que acreditar que uma árvore, ou conjunto delas, vai resolver o problema?

Tanto como nós, árvores são seres vivos, que trocam gases com a atmosfera e fixam carbono enquanto estão vivas. Quando morrem, devolvem o carbono em formatos talvez até mais ofensivos que o CO2 que absorveram. Por exemplo, se uma floresta for submersa, a decomposição transformará em CH4 (metano) boa parte do carbono que se desprender das plantas, que é 20 vezes mais potente em termos de aquecimento global que o CO2.

Combater o aquecimento global plantando árvores enquanto o problema é a emissão do seu veículo que queima combustível fóssil com quase a mesma eficiência dos anos 50 é no mínimo incoerente. Não pode ser uma solução replicável.

Em estimativa minha, a Amazônia tem aproximadamente em estoque de carbono, caso convertido em CO2, aproximadamente 10 anos das emissões do mundo e aproximadamente 200 anos das emissões do Brasil. Isso quer dizer que, em termos de emissões, se tivéssemos queimado toda a Amazonia em 2003, teríamos naquele ano a mesma atmosfera que temos hoje!

Não quero com isso fazer apologia ao desmatamento que lamentavelmente bateu mais um recorde dias atrás (Agosto de 2013) mas apontar que são assuntos separados. Não se salva a floresta pelo clima e nem o clima pela floresta. Quem atirar no pato não vai acertar no ganso, menos ainda salvar a floresta.

Pra salvar o clima temos que atacar o que realmente altera o clima que é a matriz energética. Pra salvar a floresta temos que explorar o seu potencial econômico do não desmatamento.

Tratar o carbono como se fosse sinônimo de floresta e vice-versa vai custar mais uma crise de credibilidade ao mercado de carbono. Cada coisa no seu lugar: a floresta gerando biodiversidade e a energia e produção limpas reduzindo as emissões.

 

Felipe Bottini é economista pela USP com especialização em Sustentabilidade por Harvard. Fundador da (www.greendomus.com.br) e da (www.neutralizecarbono.com.br) e Consultor especial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.

 

CATEGORIAS

Destaques